Doenças preveníveis por vacinas: VARICELA (Catapora)
Muitos ainda acham que a varicela é uma doença sem complicações. Muitos pais já receberam e continuam recebendo orientações de parentes e amigos para deixar seus filhos pequenos em contato com algum doente justificando que “é melhor pegar logo” ou que “a catapora é uma doença boba e nada vai acontecer”…
Não é bem assim…
A varicela é uma doença causada pelo vírus varicela-zoster, extremamente contagiosa e que tem potencial de provocar quadros de gravidade variável ou até mesmo fatais. Embora ocorra frequentemente como uma doença leve na infância, crianças saudáveis, adolescentes, adultos e pessoas com algum tipo de comprometimento da imunidade (ex. portadores de doenças crônicas) podem apresentar complicações, tais como pneumonia, encefalite, hepatite, pancreatite, miocardite, pericardite, artrite, distúrbios hemorrágicos, infecções bacterianas secundárias, necrose da pele e gangrena.
A transmissão acontece pela disseminação no ar das secreções respiratórias contaminadas pelo vírus ou pelo contato direto com o líquido das lesões cutâneas da pessoa doente. O período de incubação dura de 10 a 21 dias, mas pode ser mais curto nas pessoas imunocomprometidas ou mais longo naquelas previamente vacinadas.
O contágio acontece de 24 a 48h antes do surgimento das lesões cutâneas e durante todo o período em que houver lesões ativas. A varicela só deixa de ser contagiosa quando todas as lesões se tornam crostas (casquinhas secas).
Em relação às manifestações clínicas, podem surgir febre (baixa ou alta), mal-estar, dores no corpo, dores de cabeça, falta de apetite e outros sintomas sistêmicos, que são mais frequentes dentro dos primeiros 4 dias de doença. Geralmente, as lesões apresentam distribuição e aspecto característicos, aparecendo primeiro no couro cabeludo, face e tronco, sendo mais concentradas nessas regiões e menos nos membros. Também podem estar presentes na pálpebra, conjuntiva, orofaringe (garganta), ouvido, vagina etc. Quanto ao aspecto, em questão de horas, discretas manchinhas avermelhadas (máculas) tornam-se pápulas, vesículas, pústulas e crostas, com o aparecimento de novos grupos de lesões na primeira semana. O número médio de lesões é de cerca de 300, mas crianças saudáveis podem apresentar por volta de 1500 lesões.
A vacina possui mais de 95% de efetividade e é responsável pela redução de mais de 90% dos óbitos por varicela em crianças de 1 a 4 anos de idade desde a sua introdução nos programas de imunização. Após uma situação de contato próximo com uma pessoa doente (contato domiciliar ou em escolas e creches), a criança previamente imunizada pode desenvolver uma doença modificada, caracterizada por um quadro bem mais leve, com poucas erupções cutâneas (vesículas são incomuns), com ou sem febre e menos contagioso, conferindo gravidade e risco de complicações bem menores quando comparado a um quadro típico de uma pessoa não imunizada.
A dose única da vacina mostrou-se altamente eficaz na prevenção de formas graves da doença. Porém, pela possibilidade de ocorrência da doença em crianças vacinadas com uma única dose, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda um esquema de 2 doses, que devem ser aplicadas aos 12 e 15 meses de idade.
Indivíduos imunocomprometidos, gestantes e recém-nascidos expostos à varicela têm indicação de receber a imunoglobulina anti-varicela-zoster (VZIG) como forma de diminuir o risco de infecção e desenvolvimento da doença (medida profilática após a exposição). A VZIG pode ser aplicada dentro de 4 a 10 dias após a exposição, mas essa medida deve ser tomada o mais rápido possível.
Dra Marianne Karel V. Kawassaki
CRM 128079
Pediatria Geral e Terapia Intensiva Pediátrica